de quem alto falava
Certo homem havia que se falto julgava, pois inveja sentia de quem alto falava.
Certo homem havia
que se falto julgava,
pois inveja sentia
de quem alto falava.
Chegava a algum rotineiro lugar (não eram tantos), e já o saudava algum amigo aos gritos: “E aí, Expedito!” No supermercado, no ônibus, em reuniões de condomínio, onde fosse, ouvia se esgarçarem as pessoas ao telefone, esgoelando-se umas às outras, suas vozes ecoando como se por celeiros e túneis, e pensava: que bom seria ter tamanho poder vocal. Talvez não lhe faltasse a voz, mas o ânimo. Era demasiadamente tímido. Talvez fosse patológica a timidez. Não poderia ser natural que lhe custasse anos, verdadeiramente anos, até que pudesse ter uma conversa um pouco mais animada com algum amigo íntimo. Desconcertava-se com abordagens de pessoas menos familiares, mesmo que abundantemente conhecidas; gaguejava, branqueavam-se-lhe as respostas, vinham-lhe a meio, fritas ou trituradas, as palavras poucas que alcançava formar. Raras vezes na vida, algum amigo meio desconcertado o instara a “falar mais baixo”. Sentia-se esperançoso. Sonhava que mais amigos lho haviam desejado pedir, mas lhes faltara a coragem da deselegância. Marcaria consulta com terapeuta de fala, se lhe saísse a voz ao bocal, se lha compreendessem as recepcionistas.