novos haicais dum país (ainda) pandêmico
(1)
hálito
sem o saberes
no halo de teus lábios
dançam demônios
(2)
dialogismos digitais
áfono estafeta
internúncio perfuntório
mudos menestréis
(3)
cemitério à noite
túmido o negrume
túrgidos sonhos consome
túmulos, tumultos
(4)
vindima
vindima, vitimas
verdes alvéolos, não uvas
vidas, não videiras
(5)
ré
réus em marcha ré
contramão, contravenção
as mãos pelos pés
(6)
EPIs
medusa impudente:
será de pedra essa face
nua em meio às gentes?
(7)
hoje, hoje, hoje
no espelho me espreita
rugoso o rosto da Espera
num hoje sem fim
(8)
agulha
agulha, teu hino
une aos humanos destinos
não mais que uma vez
(9)
colibri
sangue-oferenda
adoça a flor pra doce agulha
do colibri
(10)
primeiro bom-dia
dia após dia
felicita-te a Morte
e dela te esqueces
(11)
segundo bom-dia
a Morte é uma notícia
velha que te deu bom-dia
mas não a lês
(12)
haicai parafrástico
ramo
um ramo despido
dobra ao peso do repouso
das aves noturnas
Álvares de Azevedo, Macário