Citações em artigos científicos: quanto mais melhor?

Citar nossas fontes é uma das tarefas basilares do trabalho de redação de textos científicos; quando começamos a lidar com metodologia científica, entre as primeiras coisas que aprendemos, estão a formatação de citações e a normalização de referências bibliográficas no corpo do texto e ao final.

Importante, contudo, lembrarmos que os termos citar e citação são ambíguos: em sentido amplo, citar significa parafrasear ou simplesmente mencionar qualquer texto que sirva de base para nossas afirmações; em sentido estrito, significa reproduzir textualmente uma passagem de algum dos textos que nos servem de base. Ambas as formas devem vir duplamente acompanhadas tanto da referência simplificada no corpo do texto (no formato sobrenome-ano-página segundo a ABNT) quanto da referência completa normalizada na seção de referências. Aqui, iremos nos focar no sentido estrito: a citação textual ou citação direta.

Citar  textualmente nossas fontes em nossos artigos científicos é uma tarefa um pouco mais complexa do que poderia parecer em princípio. Como qualquer parte do artigo, a citação deve cumprir uma função—preferencialmente, uma que não possa ser cumprida de outro modo, ou que seja mais otimamente cumprida deste.

A citação em textos a serem traduzidos, como já pontuei em outra oportunidade, pode oferecer problemas ao tradutor. Citar demais dificulta o processo de tradução, pois obriga o tradutor a realizar escolhas que seriam mais propriamente autorais: para evitar as traduções indiretas, o tradutor pode recorrer à paráfrase, ou substituir o texto pelo original (ao qual o autor do artigo não consultou).

Porém, mesmo que o texto não seja traduzido, citar demais ou indevidamente também implica problemas redacionais que impactam a relação do leitor com o texto. Assim sendo, seguem abaixo algumas diretrizes para auxiliar no controle de citações diretas:

  • Função: a função principal de uma citação direta é oferecer as palavras de um determinado autor quando é absolutamente necessário prestar atenção muito próxima ao modo como algo foi fraseado. Essas são palavras que iremos comentar, analisar, discutir. A citação direta é importante ao oferecermos conceitos ou excertos de uma obra que constitua nosso objeto de estudo.
  • Extensão: Idealmente, devemos citar o mínimo possível. Devemos ter em mente que nosso leitor está interessado primeiramente na nossa opinião, não nas de terceiros, mesmo que sejam muito mais renomados que nós mesmos; citações demasiadamente extensas podem tornar o texto aborrecido.
  • Interpretação: O que realmente interessa ao nosso leitor é como nós lidamos com nossas fontes—como as interpretamos ou analisamos, como as criticamos ou empregamos para desenvolver nossa pesquisa e chegar às nossas conclusões. Toda citação deve ser aproveitada como oportunidade de desenvolver nossas próprias idéias; citar trechos extensos—especialmente sem oferecer nenhum tipo de comentário—acarreta eximirmo-nos de oferecer a nossa versão de nossas fontes; é esperar que o leitor faça nosso trabalho por nós, e chegue sozinho às nossas conclusões. Isto é particularmente problemático quando estamos citando nosso objeto de estudo.
  • Posição: Os itens anteriores deixam claro que é preferencial não fechar nenhuma seção do artigo em citação direta. Encerrar qualquer seção do artigo, especialmente a conclusão, sem acrescentar mais nada nosso, além dos problemas acima mencionados, causa a impressão de incompletude.
  • Tradução: Se você já planeja enviar o artigo para ser traduzido, a necessidade de reduzir suas citações e ainda maior. Cite apenas o indispensável, prefira paráfrases e diminua a necessidade de o tradutor recorrer a citações indiretas.
A tradução de citações diretas e a internacionalização de artigos científicos
Citações diretas podem ser parecer uma boa idéia na hora de escrever um artigo, mas, se você pensa em traduzi-lo, há algumas coisas que você precisa saber sobre como traduzir essas citações pode funcionar.