Poesia (Poetry), Marianne Moore
Também a mim me desgosta: há coisas importantes fora dessa picuinha toda.
Ao lê-la, entretanto, em perfeito desprezo, percebe-se haver
nela espaço afinal para algo genuíno.
Mãos que seguram, pupilas
que dilatam, cabelos que ficam em pé,
se for o caso—tais coisas são importantes, não porque
se lhes pode sobrepor uma interpretação grandiloqüente, mas por serem
úteis; quando perdem a originalidade a ponto de perderem a inteligibilidade, o
mesmo se pode dizer de todos nós: que
não admiramos o que
não alcançamos compreender. O morcego,
pendurado de ponta-cabeça ou buscando
comida, elefantes se empurrando, um cavalo selvagem passeando, o lobo incansável à sombra
duma árvore, o inamovível crítico cuja pele repuxa feito um cavalo que sente uma pulga, o fã de base-
ball, o estatístico—caso e mais caso
se pode citar, caso
se o deseje; tampouco há serventia em
julgar inferiores os “documentos de negócios e
livros-texto”; todos esses fenômenos são importantes. Não obstante, deve-se fazer uma
distinção: quando arrastada à proeminência por poetastros, o que resulta não é poesia;
tampouco antes que os autocratas dentre nós possam ser
“literalistas da
imaginação”—acima da
insolência e da trivialidade—, e possam oferecer
para inspeção jardins imaginários com sapos de verdade dentro deles, nós a
teremos. Nesse entrementes, se, por um lado, pedires—desafiando-lhes a opinião—
a matéria crua da poesia em
toda a sua crueza, e,
por outro, aquilo que é
genuíno, então terás interesse em poesia.