Ano passado, foi lançada a segunda edição (revista e ampliada) do Caligramas de Guillaume Apollinaire, em tradução de Álvaro Faleiros. Confesso que esperei muito tempo por isso, pois, desde a primeira edição, interessou-me o experimento gráfico do poeta francês; seus poemas, diagramados em forma de coração, relógio de bolso e mesmo chafariz, lembram-nos de que a poesia pode, mais que puramente sonora, ser plástica.

Os recursos de diagramação da época, contudo—e que me perdoem o poeta e tipógrafo—, podem parecer um tanto canhestros a olhos contemporâneos; a tradução de Faleiros segue primorosamente próxima à aparência dos textos de Apollinaire—o que num talvez pareça limitado, noutro, seu univitelino, é puro virtuosismo.

Assim, tive a curiosidade de ser derivadamente experimental—experimentalismo clama a experimentalismo—, e diagramar poema e tradução em um processador de textos moderno. O primeiro dos poemas (Cœur couronne et miroir) da coleção, e sua tradução por Faleiros (Coração coroa e espelho) foram repaginados como se vê abaixo:

coração


coroa


espelho