O que você paga quando paga um serviço? Diretrizes para clientes

O que você paga quando paga um serviço? Diretrizes para clientes

Quem atua como freelancer cedo tem de se ver com a questão elementar de quanto cobrar pelos serviços. É uma questão crucial: demasiadamente elevados, os preços afastam clientes; demasiadamente baixos, podem achatar os vencimentos de toda uma categoria profissional a médio e longo prazo.

Também para os clientes, orçar e avaliar orçamentos nem sempre é tarefa clara, e pode ser frustrante. O cliente necessita do serviço, mas nem sempre sabe quanto vale, nem sempre parou para refletir sobre a importância de determinada categoria profissional para sua vida ou negócios, e tem receio de gastar demais. Resultado: buscando única e exclusivamente o menor valor possível, nutre expectativas que não condizem com a realidade, mesmo quando esta realidade admite certa flutuação.

Gostaria de oferecer três diretrizes básicas aos clientes, para que compreendam melhor esta delicada questão, e possam escolher profissionais baseados no preço de forma mais eficiente para si e justa para todos.

1. Disponibilidade

Scarborough Fair Collection (3 of 15).
Photo by Mike Hindle / Unsplash

Quando contratamos um serviço, pensamos estar contratando apenas isso: um produto ou tarefa a ser desempenhada. Normalmente, ao questionarmos orçamentos, pensamos coisas do tipo “cobrar tanto para fazer só isso?”. Ocorre que, quando contratamos um profissional, não é apenas o produto ou serviço que está em jogo. A primeira coisa de que necessitamos não é o produto ou a competência do prestador, mas sua disponibilidade.

Pense em um médico ou em um garçom: não há dinheiro no mundo que pague uma consulta, se o médico se encontra impossibilitado de lhe atender; não há dinheiro no mundo que pague uma refeição em um restaurante tão lotado que não há mesas, e onde os garçons mal dão conta dos pedidos. O fato de o freelancer, diferentemente do médico e do garçom, não ser pago para ficar à espera de clientes—seja durante um plantão, seja no restaurante em horário de baixo movimento—não quer dizer que não tenha de estar disponível para realizar o trabalho.

Esta disponibilidade não vem da simples falta de outras propostas, mas da compensação financeira que a profissão oferece. É esta compensação que permite ao freelancer estar à sua disposição, especialmente quando há pressa na entrega do produto ou na realização do serviço. Para estar disponível, o profissional necessita cobrar um valor tal que suas despesas elementares—água, gás, luz, comida, etc.—e profissionais—equipamento, Internet, deslocamento, etc.—estejam cobertas. O valor médio do serviço cobre, portanto, não somente o serviço, mas esta disponibilidade. Sem ela, não há serviço. Qualquer um que já haja esperado meses por uma consulta ou ficado horas na fila de um restaurante poderá compreender a importância disso.

2. Empatia

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Photo by Clay Banks / Unsplash

Tendo em vista o item acima, lembre-se de que, enquanto profissional, todo cliente também é um prestador de serviços, seja freelancer, dono de empresas ou funcionário.

Ao orçar e avaliar orçamentos, pense em sua própria prática orçamentária, ou em suas condições salariais, mas, ao invés de fazê-lo simplesmente do ponto-de-vista das próprias despesas, procure projetar suas necessidades pessoais e profissionais no prestador de serviços que deseja contratar. Também este prestador terá de se ver com necessidades idênticas, semelhantes ou equivalentes; também seu serviço lhe custou e ainda custa aprendizado e experiência.

3. Cultura orçamentária

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Finalmente, tendo em vista os dois itens acima, lembre-se de que o mercado pode ser setorizado, mas esta setorização não é rígida, e as práticas vazam de uma área para outra. O hábito de orçar mal o trabalho de um prestador de serviços de uma área alimenta uma cultura mais generalizada de desvalorizar todo e qualquer serviço. Quando você reclama que se paga mal em sua área, mas pechincha além da conta ao contratar serviços de outras, está, na verdade, alimentando a cultura que desvaloriza o seu próprio serviço. Solidariedade garante justiça, mas a justiça só se garante se for para todos.

Assim sendo, valorizar o freelancer—buscar compreender como cobra, as necessidades profissionais para a execução da tarefa, de que modo seus serviços são importantes para você, e portanto quão válido é o investimento neles—evita frustrações e ciladas, e garante maior satisfação e rapidez nos serviços.

Finalmente, sempre é bom lembrar que você recebe pelo que pagou: quanto mais escasso o pagamento, maior a carga de trabalho que o profissional tem de realizar para sobreviver; conseqüentemente, menor o tempo e a energia que terá para despender na sua encomenda. É possível buscar preços satisfatórios sem criar expectativas irreais sobre orçamentos, e sem alimentar uma cultura que desvaloriza os esforços de todos, inclusive o seu.