Sinos, dobrai, e os céus bravios,
A neve e a nuvem despedi,
Este ano morre agora e aqui:
Sinos, dobrai e despedi-os.
Ledos, despedi, anunciai,
O velho, o novo neve afora:
Deixai se vá este ano embora;
O vero venha, o falso vai.
Tristeza de quem tem saudade
De quem já se foi, despedi;
Dobrando, anunciai, despedi
Reparação, desigualdade.
Da discórdia, a causa madura,
Os sectarismos despedi;
Dobrando, anunciai-nos aqui
Mores melhores, lei mais pura.
A falta, a frieza, o pecado
Despedi dos tempos atuais;
Despedi-me as rimas em ais;
Anunciai novo e melhor bardo.
De sangue e poder a vaidade,
Calúnia e ódio, despedi;
Universais, agora e aqui,
O bem anunciai, e a verdade.
Ganância despedi mordaz,
A guerra antiga e a desavença,
As velhas formas da doença;
Mil anos, anunciai de paz.
Anunciai o livre e o valente,
Mais puro o peito, bondosa a mão;
E despedindo a escuridão,
Ao Cristo, anunciai-o nascente.
(Em memória de A. H. H., morto em 1833: canto 106)