abre teu ouro (loosin yelav)

abre teu ouro (loosin yelav)

abre teu ouro, lua infeliz
às várias vias que segui
deste caminho que quantos é
não dizer sabe, nem onde vai

  flor nativa das funduras
     gélido sol, flavo fulgor
  à deriva me circundas
     frio fulgor, lúrida luz

destas veredas sã geratriz
peço incentives meu seguir
que este caminho que tantos é
leve meus passos longe de mim

  à deriva me circundas
     flavo fulgor, lúrida luz
  flor nativa das funduras
     gélido sol, frio fulgor


Três estórias se distorcem em meio à canção folclórica armênia Loosin yelav (literalmente, “Surgiu a lua”) e sua versão ao português, acima.

O texto original sugere o surgimento da rósea face da lua em meio à noite, dispersando as trevas. Conta-se que foi inspirada pelo genocídio armênio—sua sistemática perseguição e extermínio pelo Império Otomano, que toma por marco inicial o 24/abr/1915—: a luz da lua modulada na canção indicaria a rota de fuga aos armênios rumo ao mar.

(Incidentalmente,  o escritor armênio-estadunidense William Saroyan escreveu um conto intitulado 70,000 Assyrians, no qual, para lembrar do sofrimento de seu povo, irmana-se à perseguição aos assírios, que, pelos idos de 1930, quando o conto foi redigido, reduziam-se àquele número.)

A beleza enluarada do astro é uma fonte de alegria, não distinta talvez da que sentimos quando nos surge à frente a pessoa amada. Em 1964, o compositor italiano Luciano Berio compôs suas Folk Songs, destinadas à voz da meio-soprano armênio-estadunidense Cathy Berberian, na coleção incluindo a melodia armênia. Berio e Berberian eram casados à época, e viam o casamento aproximar-se do fim. Podemos apenas imaginar as movediças emoções acionadas por esta cooperação desconjuntadamente conjugal.

Há uma terceira estória—como havia uma terceira, uma quarta e uma quinta para um antológico conto de Clarice—, e começa da seguinte maneira: queixei-me de baratas…