Abreviações e siglas em artigos científicos: o que são, como usá-las e traduzi-las

Abreviações e siglas em artigos científicos: o que são, como usá-las e traduzi-las

Quem publica artigos em periódicos sabe que a maioria, em suas especificações de normatização, adota limite de palavras, tanto para resumos/abstracts, palavras-chave/keywords quanto para o texto integral (geralmente, o limite integral inclui os dois primeiros e as referências). A quantidade de palavras varia conforme as áreas, mas todos terão de se ver com isso, ou correm o risco de ter o artigo rejeitado por critérios formais.

Um subterfúgio útil na hora de se escrever um artigo, portanto, é cunhar abreviações e siglas próprias, a serem usadas ao longo do artigo para simplificar determinadas expressões nominais mais extensas; chamemos estas abreviações criadas para uso exclusivo dentro de um texto de abreviações autóctones. A prática de recorrer a abreviações, autóctones ou não, traz as seguintes vantagens:

  • Economia: A primeira vantagem é, claramente, ganhar espaço textual. Uma expressão como pós-condicionamento isquêmico, quando abreviada, por exemplo, para PCI, reduz 2 palavras e 29 toques em 1 palavra de 3 toques para cada ocorrência da expressão; se ocorrer, digamos, 100 vezes no artigo, reduziremos 200 palavras para 100, e 2900 toques para 300. Ganha-se muito espaço para se dizer outras coisas relevantes.
  • Destaque: Expressões importantes, ao receberem uma abreviação, tornam-se mais visíveis e rapidamente identificáveis. Como veremos abaixo, abreviar indica que a expressão é importante, já que ocorre um número muito alto de vezes.
  • Simplicidade: Uma expressão nominal longa é, a bem da verdade, um sintagma nominal; sintagmas nominais podem atuar como sujeitos ou objetos; quando são muito extensos, podem causar entraves ao processo de leitura. Vejamos o seguinte exemplo:

original: An analysis of maxillary and mandibular skeletal positions is essential in planning dentofacial orthopedic treatment or orthognatic surgery. (ROSENBLUM, The Angle Ortodontist 65.1, 1995.)

tradução: Uma análise das posições esqueletais do maxilar e da mandíbula é essencial no planejamento de tratamento ortopédico dento-facial ou de cirurgia ortognática.

As expressões sublinhadas são sintagmas utilizados na primeira sentença de um artigo científico. A sentença contém apenas um simples verbo de ligação—is/é—, responsável, porém, por unir sintagmas complexos, compostos por sintagmas nominais e preposicionais mais simples. Compare-se quão mais rápido seria identificar os elementos gramaticais da sentença e seu conteúdo se pudéssemos substituir os sintagmas nominais (os mais simples, ao menos, no interior dos sintagmas maiores) por abreviações:

original com abreviações: An analysis of MMSP is essential in planning DOT or OS.

  • Afinidade: Às vezes, a abreviatura já existe e é bastante comum; empregar abreviaturas recorrentes reforça a coesão terminológica das áreas de conhecimento, e facilita a identificação por leitores expertos. Em lingüística gerativa, por exemplo, sintagmas nominais, são conhecidos como NPs (do inglês, noun phrases), e não é impossível que um lingüista falando a um público especializado lance mão da abreviatura sem mesmo sentir que deveria explicá-la; lingüistas lusófonos poderão usar tanto NP quanto SN, contando em ambos os casos com a compreensão imediata de seus pares.

Estas vantagens contrabalanceiam duas potenciais desvantagens do uso de abreviações—em especial, das autóctones—:

  • Criação de terminologia específica e pontual: Uma abreviação, mesmo autóctone, também pertence ao jargão técnico, e também deverá ser encarada como tal. Abreviar amplia o leque terminológico de que o leitor deve dar conta, sem, contudo, que esse incremento possa ser empregado alhures (a menos, claro, que seu artigo se torne seminal dentro da comunidade, e suas abreviações passem a ter ampla circulação).
  • Dificuldades em citações: Se a abreviação autóctone foi apresentada no corpo do artigo (conforme explicamos mais abaixo), caso outro pesquisador deseje citar um trecho em que é empregada, estará extraindo esse trecho do contexto onde a abreviatura foi explicada. Isso gerará problemas, pois terá de modificar a citação, identificando para seu leitor as alterações. Conforme explicamos em outro texto, porém, a prática da citação direta pode ser bastante rara em determinados contextos; esta, portanto, pode ser encarada como uma desvantagem menor.

Assim, na hora de escrever nossos artigos, nem sempre compreendemos bem como empregar abreviações, especialmente se levarmos em conta que as vantagens devem superar as desvantagens. Aqui vão algumas diretrizes importantes na hora de selecionar quais expressões nominais devem ser abreviadas:

  • Freqüência: Quanto mais importante for uma expressão, tanto mais recorrente tende a ser, e portanto economia e destaque acima mencionados têm a ver com a freqüência de uso. Assim, não adianta cunhar abreviações autóctones que serão usadas apenas uma ou duas vezes. (Claro, isso não impede de se mencionar abreviações e siglas já existentes e recorrentes na literatura, em conformidade à afinidade acima mencionada.)
  • Posicionamento: A abreviação deve ocorrer sempre logo após a primeira ocorrência da expressão no corpo do artigo. É importante notar que o resumo/abstract pode não ser o melhor lugar para introduzi-la: o resumo/abstract é uma parte do artigo que funciona como texto independente; leitores de resumos/abstracts nem sempre lêem o restante do artigo.
  • Uniformidade: Se o objetivo é poupar espaço, a primeira ocorrência da expressão deve ser, também, a única: após a introdução da abreviação autóctone, esta deverá ser empregada uniformemente em substituição à expressão principal. A regra é clara: se criou, use. Alternar entre abreviatura e expressão afeta a uniformidade do texto, e faz a necessidade mesma de se usar a abreviatura ser posta em questão.

Finalmente, se você planeja internacionalizar seu artigo via tradução, lembre que seu tradutor pode ajudar a selecionar abreviações autóctones de modo mais eficiente:

  • Seu tradutor pode identificar, primeiramente, que você ou sua área de pesquisa têm o hábito de adotar abreviações compartilhadas pela comunidade de pesquisadores e/ou de cunhar abreviações autóctones.
  • A seguir, pode identificar quais as expressões mais recorrentes (e importantes) do artigo, que mereceriam o destaque dado pela abreviação.
  • Pode, também, padronizar suas abreviações, convertendo todas as ocorrências da expressão nominal (exceto a primeira) na abreviação ou sigla correspondente em língua-meta, e inclusive criando abreviações novas, caso pareçam pertinentes.
  • Pode também fazer o trabalho oposto, e eliminar abreviações pouco úteis.

Assim sendo, se você acha que as abreviações podem resultar em ganhos para o seu artigo, converse com seu tradutor a respeito.

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