Até quando posso solicitar revisão da tradução de meu texto?
Todo trabalho sob encomenda pode necessitar de ajustes uma vez entregue. No caso de uma encomenda de tradução, quanto tempo após a entrega posso solicitá-los?
Apesar da crescente sensação de impaciência acadêmica, que obriga pesquisadores experientes e iniciantes a publicarem ou perecerem (ou a perecerem publicando), o processo de publicação de um artigo, livro ou capítulo de livro pode levar mais de ano. De tais textos, podem ser exigidas inúmeras revisões, num vai-e-vem entre pesquisadores e orientadores, organizadores, etc.
Se o texto será publicado em tradução, este processo pode encontrar novos desafios: as exigências de periódicos ou editores estrangeiros podem diferir das nossas, fazendo-nos sugestões ou apontamentos desusados ou inesperados, e talvez exigindo que recorramos ao tradutor para dirimir certas dúvidas.
O tradutor, especialmente se devidamente creditado (como deveria, mas nem sempre é, mesmo em meios acadêmicos), naturalmente, seria parte interessada, e consultá-lo nos pareceria inevitável, certo? Bom, pode não ser exatamente assim.
O tradutor é um especialista em produção textual, responsável pela mediação entre públicos que não têm língua em comum; se não é membro da equipe de pesquisa, seus interesses na publicação podem não ser propriamente acadêmicos, e a universidade pode não ser seu ambiente usual de trabalho.
Se a tradução é um serviço pago, outro senão se acrescenta: existe um prazo razoável para solicitar alterações ao que foi entregue. Como saber se o prazo se esgotou? As diretrizes são as seguintes:
O período de revisões da tradução como parte do serviço originalmente contratado se esgota com a aceitação (expressa ou tácita) do texto-meta.
A maioria dos clientes não irá avalizar o texto em definitivo para finalizar a transação: não existe um câmbio, desligo em tais trocas, de modo que, se não há manifestação do cliente nos dias subseqüentes, considera-se o serviço aceito e finalizado tal qual. Quantos dias? Não existe regulação para este prazo; parece-me razoável que não passe de uma semana.
As revisões requeridas devem ser oriundas diretamente do autor, sendo previsíveis e disponíveis desde o envio do texto-fonte finalizado.
Um sinal ainda mais evidente de aceitação tácita da tradução é seu envio, por parte do autor, a terceiros: um periódico internacional, um parecerista, etc. A partir do momento em que as alterações pretendidas vêm de terceiros, fogem ao escopo da encomenda original. Posso corrigir um tempo verbal, um lapso ortográfico ou refinar a terminologia com base numa solicitação imediata do autor: tais ajustes bem poderiam constar do texto-meta entregue, mas, por razão ou outra, não foram; mais importante: tais ajustes são revisões de meu próprio trabalho, e todo serviço sob encomenda deve prever a possibilidade de ajustes finais.
Por outro lado, parágrafos a mais ou a menos, esclarecimentos necessários a um terceiro leitor, mudanças terminológicas requeridas externamente à relação autor-tradutor não podem ser incorporadas de antemão. Não são ajustes no serviço contratado, mas demandas de uma nova etapa, posterior; se o tradutor se dispuser a fazê-las, mesmo que não o diga, serão favor ou cortesia.
Para evitar dissabores com necessidades supervenientes, converse com seu tradutor sobre a necessidade de ajustes em etapas subseqüentes à primeira entrega, e sobre sua carteira de serviços; tenha clareza de tais exigências (e, se possível, de seus prazos) desde os contatos iniciais.