Mando traduzir meu artigo antes ou depois do parecer?
Uma das coisas que conferem falseabilidade e confiabilidade aos artigos científicos é justamente a revisão por pares. Em algumas áreas, é comum citar—geralmente, em nota de rodapé—comentários feitos informalmente por colegas que leram versões anteriores do texto, e ofereceram sugestões ideias incorporadas à versão final. Entretanto, as formas mais comuns (porque mais inescapáveis) de revisão por pares são realizadas por orientadores ou pareceristas de periódicos. Isso quer dizer que, entre as etapas de redação de um texto científico, misturam-se episódios de leitura por terceiros.
Quando o texto é publicado diretamente em tradução, o parecerista e o tradutor atuam como leitores especializados com diferentes atribuições em diferentes etapas do processo; embora o tradutor possa apontar inconsistências e mesmo corrigir evidentes erros, o parecerista tende a ser mais inclusivo, sugerindo, não só acréscimos ou supressões, mas revisões teórico-metodológicas mais profundas.
Em que ordem devem atuar o tradutor e o parecerista? Idealmente, o tradutor precisa da versão final do texto, portanto deve atuar depois do parecerista; o artigo deve ser enviado para a tradução após a aprovação do orientador ou a leitura de colegas.
Não obstante, num processo de revisão cega por pares, tradutor e parecerista estar podem trocar de ordem ou mesmo se alternar. Alguns periódicos internacionais brasileiros aceitam e emitem pareceres de textos em português, a serem publicados em tradução; nesse caso, o parecerista também atua antes do tradutor, e o texto a ser traduzido já vem com suas sugestões incorporadas—o que não impede que alterações adicionais relativas ao inglês sejam sugeridas, uma vez que a tradução seja enviada ao periódico.
Se o artigo é submetido diretamente em tradução, o tradutor pode atuar antes e depois do parecerista; todo e qualquer ajuste necessário deve ser feito pelo(s) autor(es), mas deverá ser traduzido e incorporado ao texto final.
Assim sendo, é aconselhável conversar com o tradutor sobre a possibilidade desse tipo de incorporação. É importante lembrar que os acréscimos solicitados não fazem parte da encomenda original; mesmo que seu tradutor opte por não informá-lo, a tradução desses trechos sem cobrança é uma cortesia, e deveria ser vista como tal. Também é importante ter em mente que, embora seja perfeitamente aceitável que o tradutor realize ajustes a pedido do(s) autor(es), a extensão dos ajustes quando oriundos de um parecer tende a ser maior, e a incluir a tradução de trechos novos, não previstos no orçamento original.
Converse com seu tradutor sobre a necessidade de ajustes à tradução oriundos da emissão de um parecer. Talvez seja possível prever a possibilidade dessa revisão do trabalho tradutório já desde o orçamento inicial.