O resumo/abstract de seu artigo é um “spoiler”?
Como tradutor especializado em gêneros acadêmicos, o tipo textual que certamente mais me aparece—aquele do qual a toda a comunidade acadêmica parece ter necessidade—é o resumo, a ser vertido em abstract.
Já tratei no resumo em várias ocasiões: explicando sua função, os tipos de resumo, e sua relação com o artigo ao qual resume. Gostaria de oferecer uma informação adicional a este último tópico.
Venho percebendo que redatores menos experientes—especialmente, aqueles se iniciando em áreas cujos resumos são costumeiramente fixados entre 100 e 200 palavras—tendem a ocultar de seus resumos os resultados de pesquisa, focando-se em objetivos e referencial teórico.
Talvez isto se deva à natureza por vezes qualitativa da pesquisa, uma vez que resultados de pesquisa são mais facilmente identificáveis quando trabalhamos com pesquisa empírico-experimental—que instrumentaliza, coleta e quantifica dados. Não é impossível que uma tabela ou gráfico recheados de números sejam muito mais facilmente identificáveis como resultados de pesquisa que outros tipos de dados não-quantificáveis.
De toda forma, se realizamos algum tipo de pesquisa, então há algo que descobrimos—alguma conclusão a que chegamos, algum problema que encontramos, etc.—; tais achados constituem nossos resultados de pesquisa; como tal, devem constar não somente de sessão específica do artigo, mas também do resumo.
Também não me parece implausível que alguns pesquisadores se sintam menos tentados a incluir os resultados de pesquisa em seus resumos como se isto fosse diminuir a importância ou interesse da leitura de seu texto. Se alguém se identificou aqui, deixo a seguinte dica:
Não existem spoilers em resumos ou abstracts. O objetivo não é deixar o leitor com “gostinho de quero-mais”.
A função do resumo é oferecer um apanhado suficiente de todos os dados relevantes da pesquisa—objetivos, metodologia, referencial teórico e resultados—, para que possam ser usados independentemente do artigo. A curiosidade que move o leitor à leitura do seu artigo não é a mesma do leitor de um romance; esta pode ser motivada por questões pessoais, instigada pela curiosidade e frustrada por spoilers. A curiosidade científica do pesquisador é motivada por seus interesses de pesquisa; pesquisadores não têm tempo de ler um artigo inteiro para descobrir se lhes interessa ou não somente ao final.
A função de divulgação rápida dos resumos é especialmente verdadeira no caso de abstracts em língua estrangeira, pois, como pontuei em outras ocasiões, o abstract é um texto autônomo, e pode mesmo ser o único trecho de seu texto a que pesquisadores estrangeiros que não lêem sua língua materna terão acesso.
Independentemente de seu seu artigo ser ou não integralmente traduzido e internacionalizado, é importante fornecer alguma notícia de seus principais achados e conclusões em seu abstract.